Às vezes, o que mais machuca não é o fim, mas a insistência em negar o que já terminou. Grande parte dos nossos dramas afetivos nasce da teimosia em querer quem não nos quer — física ou emocionalmente. A gente se apega ao que foi, ao que parecia ser, ao que teve lampejos de amor, mas não se sustentou no tempo. E seguimos ali, oferecendo o coração inteiro a quem já partiu emocionalmente, mesmo que continue por perto.
Tem gente que diz “eu te amo” com a boca e “eu não quero estar aqui” com o corpo. Que manda mensagem dizendo “sinto sua falta”, mas não move um centímetro para reencontrar você. Que liga chorando no meio da noite, mas some nos dias de sol. Que diz que quer tentar, mas não aparece pra construir nada. Que diz “é só uma fase”, “é que estou confuso”, “preciso de um tempo”, e você fica acreditando que o tempo é aliado, quando, na verdade, está sendo usado como esconderijo para um não que não tem coragem de se assumir.
E o mais perigoso é quando confundimos migalhas com banquetes. Quando achamos que aquele “bom dia” perdido de vez em quando significa presença. Quando nos agarramos à lembrança de um fim de semana bom para justificar meses de silêncio. Quando alguém nos trata como opção e a gente insiste em tratá-lo como prioridade. A verdade é que toda dúvida é um não com medo de ser dito. Toda ausência que se arrasta é uma escolha. E toda escolha que nos exclui é uma recusa.
A gente precisa aprender a ler o que o outro não diz — ou o que diz pelas entrelinhas do descaso. Porque tem gente que nos quer por perto, mas não dentro. Que nos deseja, mas não se compromete. Que nos admira, mas não nos escolhe. Que diz que nos ama, mas não quer dividir a vida. E isso é um não. Um não disfarçado, travestido de esperança, mas que nos suga, nos cansa, nos apaga aos poucos. E a pior forma de solidão é estar ao lado de alguém que não está mais ali.
Por isso, escolha quem te escolhe. Escolha quem permanece, quem se importa, quem pergunta como foi seu dia, quem segura sua mão no caos e dança com você nos dias comuns. Escolha quem não te confunde. Quem soma mais do que tira. Quem quer ficar — não por carência, conveniência ou culpa, mas porque descobriu em você um lugar onde também deseja morar.
Mas tem um detalhe importante: essa escolha só é verdadeira quando não é feita com os olhos da carência. Quando não vem do medo de ficar só, mas da vontade de compartilhar a vida com alguém que também esteja pronto. Amor saudável é encontro, não fuga. É construção, não preenchimento. Não espere que alguém tape buracos que só você pode curar. Não se relacione como quem busca muleta: amor não é muleta, é parceria.
Então, por mais que doa, insisto: escolha quem te escolhe. E, principalmente, aprenda a se escolher antes. Porque quem se conhece, quem se cuida, quem aprendeu a ficar inteiro na própria companhia, não aceita ser metade na vida de ninguém. Quem se sustenta de pé não se curva diante de migalhas emocionais. Quem aprendeu a se amar, não mendiga afeto — compartilha.
E quando dois que se escolhem de verdade se encontram, o amor não é tempestade, é abrigo. Não é urgência, é vontade mansa de permanecer. Não vem pra tapar buracos, vem pra somar horizonte. Não precisa provar nada todos os dias, mas se reafirma nos gestos simples, na presença constante, na leveza do estar junto mesmo nas horas pesadas. Porque o amor que floresce em terreno fértil é aquele que nasce de dois inteiros — nunca de dois vazios se tentando completar.
No fim das contas, o amor que vale é aquele que não nos deixa confusos. Que não precisa ser decifrado. Que não machuca mais do que cura. E ele começa quando a gente para de implorar por atenção e começa a se dar o valor de ser, antes de tudo, alguém que se escolhe — e que só permanece onde a escolha também vem do outro lado.
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Que essa leitura tenha sido um abraço.
Nos vemos em breve. 💛
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